Muito Prazer, eu sou transplantada!!!!!
“...Seu caso é de transplante de fígado.” Meu Deus - ele só pode estar brincando!! Eu?! Precisar de um transplante?! Esse médico está doido?!
Acredito que todo mundo que teve um diagnóstico de transplante pensou isso, ou então: "Agora a vaca foi pro brejo! Vou morrer !"
E a família toda saiu em busca de uma cura milagrosa, um chá, uma dieta. Tudo, menos encarar essa realidade com otimismo e informação “auspiciosa” esse procedimento tão importante como é o transplante.
Depois de alguns dias de sofrimento de todos e principalmente do coitado do médico que fez o diagnóstico, a maioria de nós chegou a essa tão admirável fonte de informações que é a Internet, e aí dá-lhe informações e casos!
Costumo dizer que alguns sites são escritos em “mediquês”, isto é, aquela linguagem que só médico entende e olhe lá!
E, finalmente, a ficha caiu e todo mundo começa a se mexer atrás de Centros de Transplantes e aí, sim, para o morador do nosso querido Estado de São Paulo, começa o sofrimento, pois ficamos conhecendo a angústia da fila de espera.
AGORA É SÓ ESPERAR!!!
Muito bem... Sabemos o que temos e sabemos falar o nome de nossa doença, no meu caso Cirrose Biliar Primária, patologia (chique não?) que acomete principalmente mulheres na meia idade!
Ao dar a sentença, meu médico já pediu minha inclusão na lista de espera em um grande hospital de São Paulo.
Naquela época ainda não havia sido adotado o critério do Meld, e a fila era por ordem de chegada, a cronológica.
Calculamos, então que, talvez, entre dois a três anos chegaria a minha vez.
Fomos a São Paulo, consultar um famoso cirurgião, e mais uma esperança!
Com a medicação, talvez, eu nem precisasse de transplante. Havia vários casos de estabilidade da doença só com medicamento.
Era só não descuidar da alimentação - nada de frituras e comidas gordurosas, nada de álcool, nem no casamento do filho, (Gustavo & Fernanda ) – do repouso e dos medicamentos.
Maravilha, o mundo estava salvo!
No fundo, todos acreditamos que não vamos “entrar na faca”.
A DURA REALIDADE!
Nós, mulheres de meia idade, somos mesmo privilegiadas: além de nos faltarem os hormônios, os filhos indo embora, os cabelos embranquecendo e outras coisas caindo, ainda aparece essa tal de “cirrose biliar primária!”
Mas, enfim, somos fortes e aguentamos tudo, por isso a natureza nos fez mães.
Ao anunciar o diagnóstico, meu querido médico e “sócio”, teve a bondade de deixar eu mesma chegar à conclusão que não haveria mais condições de continuar trabalhando. “A cirrose”, no meu caso, provocou varizes de esôfago e por várias vezes elas se romperam, provocando sangramento, o chamado “melena” quando é por intestino.
Foram tantas endoscopias com cauterizações que passei a ser “sócia” do meu médico e freguesa de internações na Santa Casa.
O curioso é que, apesar de meu estado clinico ir aos poucos piorando, eu não me sentia doente. Acho que isso deve acontecer com muitos pacientes, vítimas da cirrose. Sentia fadiga, falta de apetite, a barriga um pouco inchada, mas tudo era tão relativo, poderiam ser sintomas de tantas coisas! Afinal, estava na menopausa e essa, sim, provocava alterações, e não o coitadinho do meu fígado.
Mas a dura realidade é que era ele mesmo o carrasco e, apesar de em alguns períodos parecer que a doença havia estabilizado, os exames, principalmente as ultrassonografias indicavam que a necrose do fígado avançava.
Durante certo tempo, acompanhei, quase diariamente, o meu lugar na fila de espera do transplante. Fazia cálculos mensais para ver como estava indo, conversava com pessoas inscritas pelo Orkut, lia tudo sobre cirrose, e me angustiava quando percebia que alguém da fila não conseguia esperar a sua vez.
Essa fila não anda, gente?! E mais internações, idas a São Paulo etc.
Até que mudaram as regras do jogo, e apareceu o Sr Meld!
Para aqueles que ainda não o conhecem, ”Meld” é a abreviação de um cálculo matemático do resultado de alguns exames de sangue, usado para medir a gravidade dos pacientes de fígado sujeitos a transplante. Ele pode variar entre 6 a 40 e é por meio dele que sabemos se estamos próximos ou distantes do transplante...
Olga Marcondes
Repres. Grupo Hércules
em Blumenau/SC
Ex-Professora de História e Geografia
Transplantada Hepática há 1 ano e meio
Bacana e comovente... já conheço a Olga e o marido Marcondes de outros tempos e lugares. Gente finíssima e guerreira, que merecem uma 'nova' vida. Saibam que torcemos SEMPRE por voces, estejam onde estiverem. 1 abraço. Renato (Alceu) e Lu.
ResponderExcluirComo marido e "sócio" de Olga, que me atura por longos 36 anos, sinto-me orgulhoso com o seu depoiemento, pois senti de perto sua luta por uma nova sobre vida. E confiante nesta "guerreira" que abraçou o Grupo Hércules como um novo desafio pessoal.
ResponderExcluirBeijos de seu sócio.
Uma mulher espetacular, forte, guerreira, ao mesmo tempo delicada e sensível, um exemplo pra todos nós, Tia te amamos, bjs !!! Flá, Lú e Ana Laura.
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