sábado, 24 de abril de 2010

Entrevista Familiar - Doação de Órgãos

Homenagem a Carmen Segóvia (ONT - Espanha) e a todos Entrevistadores Brasileiros

O transplante é composto de várias etapas com grande carga de tensão e dedicação, existem vidas em risco e prazos exíguos.
Não podemos dizer que retirar um órgão como um fígado, que pesa mais de dois quilos e implantá-lo em uma outra pessoa que está viva, seja uma tarefa fácil.

Mas temos certeza que a Entrevista Familiar é a tarefa mais difícil de todo o processo.

Enfermeira Carmen Segóvia
Resumindo grosseiramente, ela ocorre quando profissionais consultam a família de uma pessoa em Morte Encefálica sobre a possibilidade de doação dos órgãos deste paciente falecido.
É realizada por Enfermeiros, Assistentes Sociais, Psicólogos, Médicos ou outros profissionais muito capacitados para tal.



Comprovada a Morte Encefálica estes profissionais devem entrar na sala onde está a família enlutada e tentar com muita empatia realizar duas ações que vão exigir sensibilidade e firmeza extremas:

- Amparar pessoas com um vácuo sob os pés, um vazio no peito e um enorme nó na garganta. Pessoas que acabaram de perder um ente muito querido, geralmente de forma brusca (acidente vascular cerebral, traumatismo crânio-encefálico, tumor cerebral) e que ainda enxergam a realidade com pouca definição.

Pessoas que, não raro, se sentem injustamente culpadas pelo ocorrido, ou por ter comprado a moto para o filho ou por não ter levado o pai a um Hospital mais cedo ou por outros motivos semelhantes. A razão não se faz presente com clareza nestes momentos.
A família está com a sensação de ter perdido tudo, não podendo ser constrangida de modo algum, mesmo que sem a menor intenção. Está sofrendo com uma dor de intensidade incomum e única. Ela tem o direito e deve chorar a perda.

- A outra tarefa é colocar o dedo exatamente na ferida destes que estão a beira de um colapso, é pedir para tirar partes do corpo daquele parente amado.
O objetivo é justo, é salvar a vida de membros de outras famílias que não querem e não precisam passar por esta mesma dor. Outro fim é melhorar significativamente a qualidade de vida de outros seres humanos completamente desconhecidos.

E nesta ação lutam contra um inimigo implacável: o relógio. Mesmo com o uso de equipamentos e drogas eficazes o corpo vai seguir o mesmo destino do cérebro, vai se deteriorar irreversivelmente. Quatro horas entre a retirada e o implante para o coração e o pulmão poderem ser idealmente aproveitados (*) http://www.transplantes.pe.gov.br/como_funciona.htm#07 .

http://www.transplantes.pe.gov.br/
O relógio também dirá a hora em que se inicia a ação, mas não informará jamais o seu término: 48, 72 horas depois?

Só mesmos estes suplentes de anjos conseguem caminhar neste campo minado, onde qualquer palavra mal colocada ou expressão incontida pode detonar todas as boas intenções. Eles são capazes de chegar a um ponto onde, apesar de não poderem sentir o mesmo que os familiares, conseguem falar a mesma língua, quando então passam a receber daqueles indicações muito discretas e involuntárias do rumo a ser cautelosamente seguido. Lentamente passam a caminhar fora do fio da navalha. E a família, principalmente a doadora, se sente amparada, grata e mais aliviada.


Estas pessoas existem e quando fora do trabalho usam roupas como as nossas para esconder as suas asas angelicais. Trabalho árduo, anônimo, dedicado e delicado, muitas vezes sem reconhecimento e todas as vezes sem interesses pessoais. Ao contrário, com desapego às questões pessoais, familiares, sentimentais.

Você pode ajudar!

Existe um modo muito fácil de ajudar estas pessoas a salvar vidas com maior rapidez, qualidade, e ao mesmo tempo, auxiliá-las a apoiar a sua própria família (se isto vier a ocorrer contigo):

Avise HOJE aos seus familiares e amigos que é Doador de Órgãos e Tecidos.
E vá viver a vida, que ela é muito boa mesmo!


(**) A Enfermeira Carmen Segóvia é provavelmente a maior autoridade mundial em Entrevista Familiar. Se a Espanha é referência mundial em captação de Órgãos (e ela é da ONT) muito se deve a esta profissional.
Santa Catarina também está em destaque neste assunto devido, em boa parte, a ela. Inclusive o atual Coordenador Estadual (Dr. Joel Andrade) estagiou na Espanha;
a CNCDO/SC e os excelentes entrevistadores do Estado usam  conhecimentos repassados por esta  mulher competentíssima e apaixonante.

http://www.dicyt.com/noticias/los-estudiantes-de-medicina-de-valladolid-aprenden-la-importancia-de-la-comunicacion-en-los-procesos-de-donacion-de-organos?handle=los-estudiantes-de-medicina-de-valladolid-aprenden-la-importancia-de-la-comunicacion-en-los-procesos-de-donacion-de-organos&newsId=

Fernando Cezar P Santos
Presidente do Grupo Hércules/SC
Engenheiro Civil
Ex-Técnico de Suporte Tecnológico da Caixa 
Transplantado há 2 Anos e 5 meses
Portador de Hepatite C - 1a

4 comentários:

  1. olga lucia marcondes25 de abril de 2010 às 10:57

    Brilhante texto, Fernando.
    Se não fossem esses anjos o que seria de nós, não é mesmo?
    Olga Marcondes, transplantada de fígado há 1 ano no Hospital Santa Isabel/SC

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  2. Nossos parabéns e gratidão a todos(as) "Carmem Segóvia" que doam-se de coração nestes momentos tão difíceis quando se perde um ente querido, fazendo surgir no meio da dor um sentimento de solidariedade.

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  3. Olá,

    A doação de órgãos é um ato de solidariedade que salva vidas.
    Em 2009 o Brasil teve recorde de 26% em número de doadores.
    Saiba mais sobre o tema aqui: http://bit.ly/cHLx34 .

    Para mais informações:
    fernanda.scavacini@saude.gov.br
    Ministério da Saúde

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  4. Agradecemos os comentários e o apoio de colegas Transplantados, Sociedade Civil e Gestores da Saúde

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