segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sinal de Alerta para Doações

Reprodução de reportagem do Diário Catarinense de 13/02/2011.
Agradecemos imensamente competência e sensibilidade da equipe, ao detectar a verdadeira carência do setor!
Grifos, links e comentário final são de autoria do Grupo Hércules!

DIÁRIO CATARINENSE, DOMINGO, 13 DE FEVEREIRO DE 2011
Geral

Editora: Mariju de Lima - (48) 3216-3533
Subeditora: Valéria Rivoire - (48) 3216-3567
Coordenadora de produção: Nanda Gobbi - (48) 3216-3530 geral@diario.com.br



Fotos: Hermínio Nunes (alto) e Charles Guerra (acima)

SINAL AMARELO 
Quando surge um Doador, a equipe tem que correr    
Foto: Hermínio Nunes


Estado cai no ranking de doações de órgãos


Queda no índice de captações acende alerta para a necessidade de investimento na profissionalização



JOEL DE ANDRADE
Coordenador da SC Transplantes

Para termos doadores,
precisamos que as famílias
autorizem, mas só
conseguimos quando elas
confiam na equipe
de atendimento.



ROBERTA KREMER


Após permanecer quatro anos como o estado que contou com o maior número de doadores de órgãos, Santa Catarina perdeu a primeira colocação para São Paulo em 2010. A queda não é expressiva: de 19,8 doadores por milhão de população (pmp) em 2009 para 17,7 em 2010. Mas serve de alerta: é preciso investir mais na profissionalização da área de transplantes para evitar que a taxa reduza ainda mais nos próximos anos.


De acordo com o coordenador da SC Transplantes, Joel de Andrade, o bom desempenho do índice catarinense de 2005 a 2009 foi resultado da oferta de capacitações para os trabalhadores da saúde pública. Em 2010, o processo de doação e captação esfriou. A SC Transplantes é uma Gerência da Secretaria da Saúde que coordena as ações que envolvem captação e transplantes no Estado.
 O Hospital Santa Isabel, em Blumenau, é um dos principais captadores de órgãos, mas uma queda drástica no ano passado - de 22 em 2009 para cinco em 2010 - contribuiu para diminuir o índice estadual. A Diretora de Enfermagem da instituição, Márcia Regina Fidauza, considera a redução uma mostra do "desânimo" dos profissionais, causado pela redução de cursos de capacitação oferecidos pelo governo do Estado. Outro motivo da defasagem seria a falta de gratificações para os envolvidos com a captação de órgãos. Apenas algumas funções recebem hora plantão e sobreaviso. O restante não tem nenhum tipo de ganho extra.

- Para termos doadores, precisamos que as famílias autorizem, mas só conseguimos quando elas confiam na equipe de atendimento, que tem de se sentir incentivada e bem treinada - analisa Andrade.


Foi o investimento na profissionalização que ajudou São Paulo a alavancar as doações. Depois que foram criadas as Coordenadorias de captação nos hospitais, e os médicos passaram a receber treinamento e gratificações de R$ 4 mil ao mês, os índices de doadores subiram de 12 pmp em 2008 para 16,9 em 2009 e 21,2 em 2010. Para tentar reverter o quadro, em 2010, a SC Transplantes enviou ao Ministério da Saúde um projeto para criar três Organizações de Procura de Órgãos, com o objetivo de remunerar os servidores com um valor mínimo de R$ 600. Em dezembro, Santa catarina recebeu R$ 60 mil como auxílio para o projeto. O dinheiro ainda não foi usado. para continuar recebendo, o Estado precisa implantar o projeto, o que custaria R$ 140 mil por mês ao Governo Estadual.

- Como Santa Catarina passa por 120 dias de contenção de despesas, vamos esperar - diz o secretário da Saúde, Dalmo Claro de Oliveira.
roberta.kremer@diario.com.br



77%
foi o índice
de queda nas
captações do
Hospital
Santa Isabel,
em Blumenau.



  A vida antes e depois do transplante

Maria da Conceição está na lista de espera por um novo fígado.
Foto: Hermínio Nunes 

PAULO
MARQUES
Transplantado

O que mais
gosto de fazer
é tomar água,
uma coisa tão
simples, mas
que eu não
podia durante


Após passar por hospitais de Chapecó e Passo Fundo (RS), ir atrás de médicos particulares e fazer uma bateria de exames, dona Maria da Conceição Zacarias, 65 anos, descobriu no final do ano passado que estava com cirrose hepática. A nova luta da mulher de Saltinho, Oeste do Estado, é enfrentar a lista de espera para transplantes do órgão, que em dezembro estava na marca de 171 pessoas.
A rotina da família toda mudou com a doença e a necessidade do órgão. Ela e o marido Matias Zacarias, 67 anos, deixaram o sítio e foram morar com três filhos que trabalham em Florianópolis. A intenção foi ficar mais próxima do Hospital Santa Isabel, em Blumenau, referência estadual no transplante de fígado.
No começo de março, a mulher fará uma consulta para avaliar sua situação. Se o caso for considerado grave, ela vai para o topo da lista. Do contrário, Maria Conceição pode ter que esperar pelo menos seis meses - tempo médio de permanência na fila, apontado pela SC Transplantes.
O filho Darci Zacarias, 31 anos, torce para que o governo se esforce para melhorar a captação e apela às pessoas para que se conscientizem da importância da Doação no momentoda perda de um parente. Isso pode fazer toda a diferença.
No último ano, famílias de apenas 109 dos 295 potenciais doadores autorizaram a retirada dos órgãos.

Com Paulo Marques, 33 anos, um dos representantes da Associação dos Pacientes Renais de Santa Catarina (APSC), a situação foi mais fácil. Como precisou de um rim - órgão que pode ser captado de vivos, já que todos temos dois rins e podemos viver bem com um - bastou a solidariedade da irmã. Ele recebeu o novo órgão em 2002, depois de ficar 10 meses fazendo hemodiálise.
- O que mais gosto de fazer é tomar água, uma coisa tão simples, mas que não podia durante a hemodiálise. - revela.



Mãe acredita ter ajudado seis pessoas com órgãos do filho.
Foto: Alan Pedro

MARLI KLIMA
Mãe que doou
órgãos do filho


Houve quem
dissesse que eu
e meu marido
queríamos
matar o Lucas
para dar os
órgãos e até
vendê-los. Mas
eu sabia que
estava fazendo
a coisa certa.





Criciúma
ANA PAULA CARDOSO

Quando o filho Lucas, 17 anos, morreu atropelado em Içara, Sul do Estado, a zeladora Marli dos Santos Castro Klima, 42 anos, não pensou duas vezes e doou os rins, as córneas, o coração e o fígado do rapaz. Nessa conta, ela ajudou seis pessoas e enfrentou o preconceito e a falta de informação sobre doação de órgãos.


- Houve quem dissesse que eu e meu ex-marido queríamos matar o Lucas para dar os órgãos e até vendê-los. Mas eu sabia que estava fazendo a coisa certa. - afirma Marli.


A idéia de doar surgiu na primeira vez em que viu a palavra Doador em um documento de identidade. A partir daí, passou a conversar sobre o assunto em casa e se tornou incentivadora da Doação.
Marli sentiu na pele a nobreza da doação em 15 de janeiro de 2007. Lucas ia para uma danceteria em Içara quando um motociclista embriagado invadiu a calçada e o atropelou. Para Marli, além da ignorância sobre o assunto, as pessoas temem as equipes de captação. Ela conta que quando foi confirmada a morte cerebral 
de Lucas, foi procurada para doação e nunca sentiu-se invadida ou forçada a doar os órgãos do filho. Desde 2000, quando mudou a Lei de doações, a decisão cabe exclusivamente à família. Antes, a pessoa escolhia se queria ou não ser um doador - condição informada na identidade.
ana.cardoso@diario.com.br


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Investimento na profissionalização:


Estes profissionais se capacitam, agregam experiências, salvam vidas... e em algum momento, cansam! 
Colocar a própria vida, os amigos e a família em segundo plano, sem nenhum retorno prático é desgastante.


Então eles levam toda sua solidariedade e conhecimento para outras áreas. 




E na CIHDOTT (Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes) tudo volta ao zero:
Novos profissionais voluntários e solidários, sem treinamento, sem remuneração, sem perspectivas de carreira.
E o ciclo continua!

O Projeto da SC Transplantes é Modelo para o Brasil e mais uma vez Santa Catarina mostra a criatividade e a competência vanguardista. Com a implantação voltaremos a liderar o Ranking Nacional de Doações Efetivas, mas o mais importante é que vamos salvar a vida de muito mais Catarinenses e Brasileiros.


Fernando Cezar P Santos
Presidente
Grupo Hércules



É desumano e antiético

O texto abaixo foi redigido pelo Dr. Roberto Focaccia
Professor livre-Docente pela Faculdade de Medicina da USP;
Professor Titular de Infectologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí;
Professor Titular de Infectologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Metropolitana de Santos;
Coordenador do Grupo de Hepatites do Instituto de Infectologia Emílio Ribas;
Comitê Assessor Permanente de Hepatites Virais da SES/SP;

em resposta a Incertezas e Esperança para o enfrentamento das Hepatites Virais e seus Agravos ,
de Jeová Pessin Fragoso, Presidente do Grupo Esperança, de Santos
  

Para contextualizar rapidamente, devemos citar que no 
final de 2009 o Programa Nacional de Hepatites Virais (PNHV) foi incorporado ao Departamento de DST, AIDS (e Hepatites Virais). 
No final de 2010 foi extinta esta Coordenadoria do PNHV dentro do Departamento.
No início de 2011 estamos como há dez anos atrás, se não contarmos o tempo perdido.


Porque não se identificam os portadores de HCV e HBV 
Dr. Roberto Focaccia *
   
"Creio que é fundamental um Coordenador para o Programa de Hepatites, dotado de profundo conhecimento sobre o assunto. Não vai resultar em nada nomear um funcionário do MS sem profunda visão e experiência como já aconteceu mais de uma vez.
 
                  A SBI e a SBH estão falando pelos seus presidentes e prepostos. Seus Comitês técnicos não autorizaram as representações dessas Sociedades a se posicionarem nessa reunião.
 
                 Há necessidade de um conselho técnico como alta representatividade científica, gestora e social que possa assessor e cobrar fortemente os gestores. Há que ser discutido um amplo e eficiente programa de prevenção; orientar e balizar as questões técnicas e estratégicas laboratoriais; criar uma efetiva ação de triagem sorológica; estabelecer programas nacionais de implementação de estruturas de assistência primária, secundária e terciária; motivar a população e sensibilizar os gestores superiores; interagir com os programas estaduais de hepatites (no último conselho técnico da SES de SP, a Dra. Umbeliana manifestou que não consegue uma linha de contato com algum interlocutor em Brasília!!!!), discutir estratégias de tratamento. Não tenha dúvida que não se identificam os portadores de HCV e HBV porque o Estado não dispõe de infra-estrutura de atendimento a tantos portadores. É desumano e antiético. É preciso orientar os gestores. Sem esse conselho, ficamos à mercê dos burocratas de Brasília.
 
               Está tudo praticamente por se fazer. As hepatites virais no Brasil continuam uma doença negligenciável. É triste para nós, que tanto lutamos e nos empenhamos, ver esse quadro desolador. Brasília.
              
               Em grande parte, o isolamento de Brasília é culpado por tudo. Ninguém de bom senso larga suas atividades profissionais pelos salários pagos. Agora com a limitação a gastos de viagem imposta pelo Mantega (aliás, necessários) ficará mais difícil eles pensarem em um conselho técnico de alto nível. É preferível ao governo contar com o patrocínio da SBI e SBH, além da estóica disposição de abnegados das ONGs.
 
               Lembre-se que o sensacional programa de AIDS foi feito com dinheiro do Banco Mundial porque a elite estava incomodada com a situação e pressionou o Governo para se mexer. Com hepatites, e tantas outras doenças importantes que acometem milhões de brasileiros menos favorecidos, empurra-se com a barriga e faz-se o pouco que se dispõe. E, muita conversa também! Quando estive nos primeiros conselhos criados, nós é que fomos negociar com o Ministro verba para disponibilizar o peguilado. Eles tinham uma sobra de 400 milhões e disseram que poderiam dispor mas, após feitos os cálculos, exigiram que aprovássemos normas para uma portaria que excluía o genótipo 2 e 3 e lesão F1. Mas conseguimos pelo menos isso. Sem um Conselho Técnico de alto nível e obviamente a pressão das ONGs, nada avançará. 
 
               Perdõe o desabafo. Mas é a realidade."





*Foto: http://www.beautyfair.com.br/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=934
                

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Doe palavras!

Campanha de Doação do Sistema Nacional de Transplantes(SNT) / Ministério da Saúde:

Você pode mandar um depoimento, uma frase, um vídeo.
Nós mandamos a nossa frase:
Um livro, um filho ou uma árvore?
Ou uma Doação de Órgãos?

Mas a frase mais importante que você deve falar para a sua Família é:
-Sou doador.

Fale hoje!

Use telefone, e-mail, twitter, facebook, orkut, MSN, torpedo...

Deixe claro para eles que, se for possível, eles poderão doar seus órgãos!
Não deixe a decisão e o sofrimento só para eles!
Ajude-os 


Doe Palavras - Sistema Nacional de Transplantes (SNT) - Ministério da Saúde

E ajude a evitar o desperdício diário de vidas. 
Ajude a salvar vidas!
Ajude a melhorar a qualidade de muitas vidas.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Otacílio Wanner: Homenagem de Goiás

ATIVISTA PELA CAUSA DAS HEPATITES VIRAIS
RECEBE HOMENAGEM PÓSTUMA DA SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE GOIÁS

Na próxima terça-feira, dia 08 de fevereiro, em Goiânia, a Secretaria de Saúde do Estado de Goiás, fará homenagem ao ativista pela causa das Hepatites Virais e Transplantes de Fígado, OTACÍLIO WANNER DA SILVA, falecido por complicações originadas pela Hepatite C em dezembro do ano passado.

Otacílio era presidente do GAPHE - Grupo de Apoio aos portadores de Hepatites de Goiás, e estava indicado pelo movimento nacional de luta contra a enfermidade, para assumir ainda nesse ano, cadeira no Conselho Nacional de Saúde.

Parabenizamos a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás pela pertinente homenagem, que de uma forma digna, enaltece a trajetória desse dedicado e abnegado homem de bem, cujo foco de sua atividade voluntária sempre foi o auxílio ao próximo, principalmente aos envolvidos com essa séria e incidente enfermidade.

Essa homenagem oficial reforça ainda  mais o orgulho que sente dele a sua família, seus amigos e especialmente sua noiva Gladys, a jovem de São Paulo, capital, originária também do movimento social  das Hepatites.

Otacílio, de gravata vermelha, à direita dele nós e Marcia Colombo do MS, e à esquerda dele o Dr. Raimundo Paraná, presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia.

Outras fotos e referências sobre o Otacílio acesse o blog do Grupo Hércules/SC: 
 
http://grupohercules.blogspot.com/2010/12/otacilio-wanner-hepatite-c.html
 
Jeová Pessin Fragoso
 Diretor Presidente
Pelo Corpo de Voluntários
Grupo Esperança
Santos/SP

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Solidariedade

Esta postagem é uma reprodução do ESPECIAL sobre Doação de Órgãos e Tecidos publicado no Jornal Diário do Litoral (DIARINHO) de Itajaí/SC, edição de 31 de Janeiro de 2011, de autoria do Jornalista e Editor de Política Cláudio Eduardo de Souza.


Nosso muito obrigado a eles, à Enfermeira Milene, à Sra Mônica Sutil, à Sra Glaucimeri Amorim, aos colegas Luiz Carlos Amorim e Zé Agostinho Felício. E a todos que de alguma forma estão envolvidos na Doação de Órgãos, Tecidos e Células para Transplantes. 
 


Solidariedade

Milhares de vidas salvas
O primeiro transplante em Santa Catarina foi realizado em 1978. Desde então três mil pacientes que estavam na lista de espera já receberam órgãos ou tecidos de outras pessoas. Em média, 80% dos transplantes de rins, fígado e coração foram bem sucedidos
 

Ato de amor de doar faz ressurgir a vida

O DIARINHO ouviu a história de envolvidos em todas as etapas do processo de doação de órgãos e tecidos em Itajaí

FOTOS E TEXTOS: Cláudio Eduardo   


Somente o “sim” é capaz de transformar em alegria o que até então era só tragédia. Em 2010, a comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT) do hospital Marieta Konder Bornhausen de Itajaí foi autorizada por 62 famílias a retirar os órgãos após a morte do paciente. Número maior que no ano anterior, em que foram realizadas 41 captações. A estatística parece positiva, no entanto, representa apenas a metade dos que foram abordados e acabaram, por razões diversas, não autorizando a doação.
Quando o marido morreu, Mônica Castelini Sutil tinha todos os motivos pra não aceitar a retirada dos órgãos. A dona de casa de 40 anos sabia que Joel Coelho Sutil, 37, tinha registrado na carteira de identidade que não era doador. “Quando a enfermeira me perguntou, deu um baque e fiquei um pouco em dúvida. Lembrei do que ele colocou no documento. Mas depois me recordei que eu brincava dizendo que não adiantava nada ele ter colocado que não era doador, porque seria eu quem decidiria”, lembra Mônica.
Joel morreu de traumatismo craniano, vítima de uma queda, aparentemente, insignificante. Ele perdeu um afilhado e, quando foi ao velório ver o corpo, desmaiou. “Ele bateu com a cabeça na calçada. Foi internado num dia e três dias depois faleceu”, conta a dona de casa. Hoje, Mônica tem orgulho da decisão que tomou há dois anos. “Algumas pessoas me criticaram, mas eu não quis saber. Pensei que era melhor ajudar alguém do que deixar tudo apodrecer no caixão”, defende.
Ao final, a dona de casa soube o destino dos órgãos do marido. O coração foi pra Curitiba (PR), os rins pra Blumenau e o globo ocular pra Florianópolis. “Nos primeiros meses eu tinha muita vontade de saber quem estava com os órgãos dele. Eu passava pelas pessoas e pensava que poderia ser qualquer um que eu encontrasse pelas ruas. Hoje, já não imagino mais isso. O fato de saber que ajudei alguém já é suficiente”, destaca Mônica, orgulhosa de sua decisão.
E o exemplo veio de casa. “Meu pai sempre quis ser doador, sempre deixou bem claro que era pra retirar tudo que pudesse ser aproveitado pra salvar outra pessoa. E quando ele morreu, nós autorizamos também”, lembra a dona de casa. Ela diz que a corrente não para por aí. A única filha que teve com Joel apoiou a mãe na decisão de doar os órgãos do pai e já sabe que, se algo inesperado acontecer, ela deve autorizar a captação dos órgãos de Mônica. “Não conheço a angústia de quem está na fila, mas imagino que não seja fácil. Acho que todos devemos nos colocar no lugar deles”, conclui Mônica.
Mônica ignorou o que dizia na Identidade do marido e autorizou a captação.
ABORDAGEM

Hospital luta contra a desinformação dos parentes

Milene Aparecida Machado é quem tem a dura tarefa de abordar os familiares enquanto eles ainda choram pela morte do possível doador. Aos 47 anos, ela é a enfermeira que coordena a CIHDOTT do hospital Marieta Konder Bornhausen. “Procuro dar informações e apoio à família. Por mais que já faça esse trabalho há bastante tempo, sempre me coloco no lugar dos parentes”, afirma Milene. Mesmo emotiva, a enfermeira sabe que tem de segurar os sentimentos na hora do momento trágico. A missão dela é buscar a alegria de quem está na fila de espera por um transplante. “Alguém que morre por falência cerebral pode salvar pelo menos oito pessoas”, destaca.
Hoje, Milene não conhece a dor de quem ela aborda, só imagina. Entretanto, ela já provou a sensação de quem recebe um órgão. “Meu primo sofreu um acidente e ficou cego. Pra voltar a enxergar, estava na fila de transplante. No dia em que ele voltou a ver, percebi o quanto o trabalho que eu faço muda a vida de uma pessoa”, relata com a voz embargada de emoção. Ao falar do reconhecimento da profissão, a enfermeira não demonstra tanta altivez quanto deveria. Mas, no fundo, ela deve se encher de orgulho da tarefa que realiza todos os dias, imaginando a felicidade de quem recebe o novo órgão.
A grande luta de Milene é contra a desinformação. Ela busca alertar os familiares pra que autorizem a retirada dos órgãos. Mas nem todos concordam. Segundo dados do CIHDOTT, 37% negam a captação por não saberem o desejo do paciente, 20% ficam indecisos e 17% não autorizam porque o paciente se manifestou contra a doação quando estava vivo. “Como a doação só é realizada com o consentimento da família, pedimos que as pessoas conversem sobre o assunto e manifestem o interesse em doar. Esse é o melhor caminho pra aumentarmos o número de doações e salvarmos mais vidas”, apela a enfermeira que realiza esse trabalho de captação, em Itajaí, há mais de cinco anos.
A Enfermeira Milene coordena os dois lados da Doação.
Confira:
Transplantes realizados no estado de SC, em 2010:

Córnea: 502
Rim (doador vivo): 52
Rim (doador falecido): 175
Coração: zero
Pâncreas: 6
Fígado (doador vivo): zero
Fígado (doador falecido): 87
Osso: 29
Esclera: 66
Medula óssea: 52
Total: 969


FILA DE ESPERA

A angústia de quem aguarda pelo transplante há quatro anos

As estatísticas de 2010 só provam que a lista de espera por um órgão ou tecido não tem expectativa de diminuir significativamente. Mesmo com 969 transplantes realizados durante o ano em Santa Catarina, 1741 ainda aguardam na fila de espera. Luiz Carlos Amorim, 51 anos, teve de se aposentar por invalidez há quatro anos. Desde então, ele é um dos 171 catarinenses que aguardam na fila por um fígado novo. Hoje, ele já está num estágio bastante delicado. Precisa fazer o transplante com urgência. A luta do aposentado é contra o relógio.
Já com problemas pra caminhar, Luiz não sai mais de casa. Passa os dias na cama ou no sofá. A falência do fígado está afetando todo o organismo do aposentado, que tem dificuldade até pra falar. “Eu não aguento mais essa espera, não sei por que demora tanto. Mas eu já disse pro homem lá de cima que eu não morro tão cedo”, brinca Luiz. Nos últimos três anos, duas vezes ele chegou ao hospital com hemorragia. A mulher dele, Glaucimeri Rebelo Pereira Amorim, 39 anos, conta que os médicos chegaram a afirmar que o marido não escaparia. “As duas vezes foi a mesma coisa, ele colocou muito sangue pela boca e os médicos me disseram que ele não sobreviveria mais que 24 horas. Mas viveu e ainda está aqui”, comemora a professora.
A angústia pelo transplante envolve a família inteira. Glaucimeri diz que não pode deixar o marido sozinho em casa. Ela não consegue mais dar aula o dia inteiro como antes, precisa se revezar com o filho de 17 anos pra acompanhar Luiz. “Na semana, ele fica um dia bem e seis dias muito mal. Além da fraqueza e da tontura, tem vezes que ele dá uns surtos e não sabe o que está fazendo. Já o encontrei mordendo o controle remoto da televisão porque achava que era comida”, conta Glaucimeri. Isso acontece porque o fígado de Luiz já não consegue mais se regenerar sozinho e as toxinas dos medicamentos que ele toma, às vezes, são absorvidas pelo cérebro.
Luiz diz que passa o dia inteiro esperando o telefone tocar pra dar a notícia de que conseguiram um fígado pra ele. Tão ruim quanto a angústia é a ilusão. “Em 2008, ligaram me dizendo que chegou a minha vez. Arrumei minha mala, estava todo empolgado. Antes que eu saísse de casa, telefonaram de novo pra dizer que não era compatível”, recorda o aposentado. Mas ele não dá sinais de que vá desistir. “Não vou tão cedo, minha mulher ainda vai ter muito que me aturar”, brinca Luiz, que é casado com Glaucimeri há 20 anos. Apesar do problema de saúde, na casa deles o bom humor reina.
Fraco, Luiz já não consegue se alimentar direito. Ele sofre, mas diz que o segredo pra suportar a situação é não ficar só pensando na doença. A mulher dele é quem segura as pontas. Glaucimeri corre atrás dos medicamentos, agenda as consultas e administra a casa. “É angustiante saber que ele está mal e eu não posso fazer nada, só esperar”, reclama a professora. Ela faz um apelo pra que as famílias que tiverem a possibilidade de autorizar a captação de órgãos não neguem a chance de outra pessoa sobreviver.

Debilitado, Luiz depende da ajuda da mulher enquanto espera outro Fígado.
VIDA NOVA

Uma segunda chance, graças à doação

Quem vê José Agostinho Felício plantando e colhendo aipim e cebolinhas na roça não imagina o que ele passou recentemente. O aposentado de 53 anos é um transplantado. Ao contrário de Luiz, Zé Agostinho ficou apenas sete meses na fila de espera por um transplante de fígado. Desde 1984 ele tinha hepatite B, no entanto, a doença nunca havia se agravado. Porém, há dois anos, ele começou a ficar com uma fraqueza incomum. Logo o médico o colocou na lista de espera pelo transplante. “O médico me mandou parar até de trabalhar, na época, porque eu poderia ter uma forte hemorragia a qualquer momento”, lembra Zé Agostinho.
No feriado de 7 de setembro do ano passado, o aposentado fez uma festança entre a família e amigos. Ele comemorou o aniversário de um ano do fígado novo. “Foi a festa de um ano de vida nova. E, se Deus quiser, por muito tempo vou continuar comemorando essa segunda chance que recebi”, comenta Zé Agostinho. Ele disse que superou a angústia da fila de espera com muita fé. O aposentado tinha tanta certeza que tudo daria certo, que em nenhum momento lhe passou pela cabeça que não conseguiria um fígado novo. “Depois que eu fiz a cirurgia, não tive nenhum tipo de rejeição. O transplante foi um sucesso”, comemora.
Zé Agostinho diz que vai passar essa corrente pra frente. “Se eu estiver no lugar de quem vai decidir se autoriza ou não que retirem os órgãos de alguém da família, com certeza direi sim. Da mesma forma, se acontecer comigo, minha família irá autorizar. Tem muita gente morrendo por falta de um órgão”, argumenta o aposentado. Ele diz que o mais importante é zelar pela vida do próximo. “Caso a família do meu doador não tivesse essa noção de amor, talvez eu não estivesse vivo”, ressalta.
Recentemente, Zé Agostinho viu os órgãos de um irmão apodrecerem pela demora na decisão de doar. “Mesmo depois de terem visto tudo que eu passei, a família do meu irmão ficou na dúvida se doava ou não. Quando resolveram autorizar, era tarde demais. Só deu pra aproveitar as córneas”, lamenta. Hoje, o aposentado é um grande divulgador da importância da doação de órgãos e tecidos. Seja na igreja ou na conversa com os amigos, Zé Agostinho está sempre falando ou entregando materiais informativos sobre o tema. Afinal, ele é a prova viva de que a solidariedade salva.
Agora, o aposentado não tem mais barreiras pra viver. Da fase ruim, a única coisa que restou foi a necessidade de tomar remédios diariamente e o cuidado com a alimentação. Fora isso, Zé Agostinho não tem mais limites. Além de passar o dia cuidando de sua plantação, ele faz natação e hidroginástica pela manhã e dá aula de dança gaúcha à noite. “Me ajudou o fato de eu não fumar, não beber e não ter nenhum tipo de vício. Hoje tenho uma saúde ótima”, destaca. Ele recebeu uma segunda chance e garante que aproveitará cada instante da nova vida.
Zé Agostinho transformou-se num grande divulgador da Doação de Órgãos.



Como posso ser doador?
Pra ser doador não é necessário deixar nada escrito, em nenhum documento, basta comunicar sua família do desejo de doar. A captação dos órgãos só é feita após a autorização da família.


Que tipos de doadores existem?
Doador vivo: pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea e do pulmão. Pela lei, parentes até quarto grau e cônjuges podem ser doadores, caso contrário, somente com autorização judicial.
Doador falecido: são pacientes da unidade de terapia intensiva (UTI) com morte encefálica, geralmente vítimas de traumatismo craniano ou derrame cerebral. Ele pode doar o coração, pulmão, fígado, pâncreas, intestino, rim, córnea veia ossos, tendão e pele.

Pra quem vão os órgãos?
Pra pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em fila única, definida pela central de transplantes da secretaria de Saúde de cada estado, pelo sistema nacional do Ministério da Saúde.

Como se pode ter certeza do diagnóstico de morte encefálica?
Não existe dúvida. O diagnóstico da morte encefálica é regulamentado pelo conselho federal de medicina. Dois médicos de diferentes áreas examinam o paciente, sempre com a comprovação de um exame complementar.

Após a doação, o corpo fica deformado?
Não. A retirada dos órgãos é uma cirurgia como qualquer outra e o doador poderá ser velado normalmente.